Nosso cérebro apresenta várias modificações decorrentes do uso continuado de uma substância aditiva. Existe um conjunto de áreas diferenciadas, atuando em conjunto, que se relaciona diretamente com a sobrevivência, chamado Sistema de Busca de Recompensa, e que se manifesta em nossa consciência como desejo, motivação, quando está estimulado. O objetivo deste sistema é nos manter intensamente interessados, por aquilo que é importante para nossa sobrevivência, seja como indivíduo, grupo ou espécie. Entretanto, o sistema é ativado também quimicamente, e é aí que reside o problema. Os neurônios movidos a dopamina, ao despertarem a sensação de prazer, nos fazem querer repetir aquilo que o causou, como a comida, o sexo, e no caso de drogas potentes como a cocaína, este estímulo químico pode chegar a níveis muito altos. É como se a parte irracional do cérebro, frente a este efeito, interpretasse a substância como indispensável à vida, colocando-a hierarquicamente superior às outras coisas da vida que realmente o são. Isso explica, desde a neurobiologia, porque o sujeito sacrifica valores morais e bens importantes, assim como relacionamentos, na busca pela droga ou álcool. A sensação que chega à consciência é o que na prática chamamos de “fissura”. Mas o sistema não tem somente elementos irracionais; há um “diálogo” destas áreas “emocionais” com a racional, o chamado córtex pré-frontal, nosso maestro e maior responsável pela nossa consciência. Esta área é encarregada de decidir se deve ou não seguir o impulso e o desejo, se permite que o processo continue até a realização ou não. Comparando com experiências anteriores, ativando memórias dolorosas, prazerosas, e gerando expectativas negativas ou positivas em relação à situação presente. Neste ponto nos perguntamos: com tantas memórias de situações de sofrimento, com tanta frustração e tristeza geradas pelo uso, porque não funciona com a droga, porque a decisão continua a ser usar, mesmo com tudo contra? As respostas a essa questão são bem complexas, mas uma só já faz sentido: numa relação de forças, quando a intensidade do desejo e do impulso supera largamente a racionalidade, deixamos de decidir pelo melhor e optamos pelo que dá prazer. Este tipo de decisão, que não se restringe ao uso de substâncias, mas a uma maneira de se orientar na vida, é trocar a razão pelo impulso, o que certamente vai levar a consequências desastrosas.
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